quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Uma tarde de poesia "a la Remains"

Quando nutres

dias fazes

amanheceres

Ventre vento

leve salada

Na porta das entranhas

fechados lábios em fibras

agonizantes

despindo-se das peles e

convenções

vertendo-se em si mesma

para ninguém pertences à

proximidade dos lados.

Foges

comendo a própria

carne dos dedos

luminosos tesouros de

investidas solitárias na carne.

Tremes ante a claridade dos ventres.

avanças em gemidos

alegres e curtos cabelos

a violência do coqueiral nua

uma praia toda desperta.

Corres por entre ruas

na multidão envergonhada

e curiosa calculas

o tempo da narrativa e o

desfecho dos fatos crudos

da vida.

Sofres a dor rutilante

das horas folhas

mortes enfeitam as calçadas

sentadas sobre suas costelas

pessoas origens tenras genros

noras sogros foras do lugar

família labirinto menor

do universo vocação abissal

do abismo desconhecido pela

altura da queda que nos consome

à caminho...



Para a poetisa cearense
Paola Benevides.

Transfiguração

Trans trás figuras

nas veias do

cotidiano

sons palavras entre

cortadas

Comunicas o terror

da solidão. Não ligas

nem desligas as cordas

do coração.

Sozinha no quarto

universo paralelo mônada

tufão

crias intervalos

viras intensidades

mutação

Cérebro cerebelo

cérele serelepes

percevejos

nos olhos da escuridão.



Para a poetisa cearense
Paola Benevides.

domingo, 25 de julho de 2010

CACHORRO DOIDO

Caule

es- correndo...

deserto

e

flor.

COMUNHÃO DE CORPOS

A tua água na boca;
minha boca na água da tua boca...

A tua pele da língua;
minha língua na pele da tua língua...

A tua malícia dos olhos;
meus olhos na malícia dos teus olhos...

O teu caminho das mãos;
minhas mãos no caminho das tuas mãos...

O teu cheiro de pele;
minha pele no cheiro da tua pele...

A tua umidade de pêlo;
meu pêlo na umidade do teu pêlo...

A tua ausência de corpo;
meu corpo na ausência do teu corpo...

CARNAL

Tua pele encontra angustiada
A minha barba ainda rala,
Tomas minha mão para o gesto íntimo
E sistemático...

Te contorces, convulsiva,
Epiléptica no chão do meu corpo,...

Sussurro palavras escondidas aos
Teus poros desconhecidos,
Nossos pés fazem unhas
E conversam... distraídas caminhadas.

Vamos juntos ao prazer e ao abandono...
Contemplo teu corpo,
Teu cadáver sem vida,...

Que por alguns instantes,
Uniu-se à matéria bruta
E cósmica da natureza!

TRANSFIGURAÇÃO

Uma lavandeira pousou sobre o teu rosto
e começou a alvejá-lo.

Tua boca como um vaga-lume,
flutuava no azul da noite;
Teus olhos abandonados,


exibiam as armas mortais
dos teus cílios enormes...

Foi quando abriste
tua inefável boca e deixaste ca
i
r
.
.

Uma singela gota de vida
sobre o negro seio da morte.

Tu amanhecias e,
teus lábios eram portas enormes,
cerradas, macias
nas quais guardavas, palpitante...
o róseo segredo do dia!

DEVANEIOS EM TORNO DA MUSA

Se pelo menos estivesses
[ aqui
Tu dirias sorrindo, maliciosamente:
“amor, não vamos ter filhos agora”.
E chuparias o pau dos meus sonhos
e projetos. Me comerias até o fim...
[ a tarde
Meterias em mim. E, talvez eu não
me sentisse tão sozinho.

Arrumarias objetos práticos,
saídas para as nossas necessidades:
dormir, beber, cantar...
Enfeitarias os desvãos e arestas do
meu dia...
Devotarias um altar para os teus deuses
no meio da sala: sais, incenso, espumas...

Serias o não-abandono a cada olhar,
a cada toque, espreitarias a anti-pele
das tensões e dos medos.

Fingirias não te saber
serva e senhora dos meus
des-aververgonhados desejos....
Incentivarias meus inaceitáveis
vícios e falhas: “ são fraquezas no caráter do amor,
meu bem” (dirias diva divã)

Arrancarias pela raiz o dente podre
do caos – “prática” e demente

Te fundirias, fudidamente,
até despertares nas pálpebras
de um não-sorriso: metas, meto,
meta... nos rabos de “sputinik”

E serias minha estrela
suja, límpida, patética e corrosiva.
Só minha, apenas minha, toda
minha... e seríamos como uma
constelação... plenos, completos e se-
parados nos tornando várias coisas
ao mesmo tempo e, permanecendo
os mesmos.... in-completos e felizes
em nossa desolidão.

Ah, se pelo menos não tivesses
morrido naquele dia em nossa
fatídica despedida – “ ingênua incompetência para o amor”...

Ah, se pelo menos ainda estivesses
aqui, viva como agora nestes versos....
Ah, se pelo menos pudesses me ouvir...
Sei que virias até mim, e então eu não
teria morrido novamente, como agora,
des-falecendo nalgum lugar entre o céu e
a madrugada.