domingo, 25 de julho de 2010

CACHORRO DOIDO

Caule

es- correndo...

deserto

e

flor.

COMUNHÃO DE CORPOS

A tua água na boca;
minha boca na água da tua boca...

A tua pele da língua;
minha língua na pele da tua língua...

A tua malícia dos olhos;
meus olhos na malícia dos teus olhos...

O teu caminho das mãos;
minhas mãos no caminho das tuas mãos...

O teu cheiro de pele;
minha pele no cheiro da tua pele...

A tua umidade de pêlo;
meu pêlo na umidade do teu pêlo...

A tua ausência de corpo;
meu corpo na ausência do teu corpo...

CARNAL

Tua pele encontra angustiada
A minha barba ainda rala,
Tomas minha mão para o gesto íntimo
E sistemático...

Te contorces, convulsiva,
Epiléptica no chão do meu corpo,...

Sussurro palavras escondidas aos
Teus poros desconhecidos,
Nossos pés fazem unhas
E conversam... distraídas caminhadas.

Vamos juntos ao prazer e ao abandono...
Contemplo teu corpo,
Teu cadáver sem vida,...

Que por alguns instantes,
Uniu-se à matéria bruta
E cósmica da natureza!

TRANSFIGURAÇÃO

Uma lavandeira pousou sobre o teu rosto
e começou a alvejá-lo.

Tua boca como um vaga-lume,
flutuava no azul da noite;
Teus olhos abandonados,


exibiam as armas mortais
dos teus cílios enormes...

Foi quando abriste
tua inefável boca e deixaste ca
i
r
.
.

Uma singela gota de vida
sobre o negro seio da morte.

Tu amanhecias e,
teus lábios eram portas enormes,
cerradas, macias
nas quais guardavas, palpitante...
o róseo segredo do dia!

DEVANEIOS EM TORNO DA MUSA

Se pelo menos estivesses
[ aqui
Tu dirias sorrindo, maliciosamente:
“amor, não vamos ter filhos agora”.
E chuparias o pau dos meus sonhos
e projetos. Me comerias até o fim...
[ a tarde
Meterias em mim. E, talvez eu não
me sentisse tão sozinho.

Arrumarias objetos práticos,
saídas para as nossas necessidades:
dormir, beber, cantar...
Enfeitarias os desvãos e arestas do
meu dia...
Devotarias um altar para os teus deuses
no meio da sala: sais, incenso, espumas...

Serias o não-abandono a cada olhar,
a cada toque, espreitarias a anti-pele
das tensões e dos medos.

Fingirias não te saber
serva e senhora dos meus
des-aververgonhados desejos....
Incentivarias meus inaceitáveis
vícios e falhas: “ são fraquezas no caráter do amor,
meu bem” (dirias diva divã)

Arrancarias pela raiz o dente podre
do caos – “prática” e demente

Te fundirias, fudidamente,
até despertares nas pálpebras
de um não-sorriso: metas, meto,
meta... nos rabos de “sputinik”

E serias minha estrela
suja, límpida, patética e corrosiva.
Só minha, apenas minha, toda
minha... e seríamos como uma
constelação... plenos, completos e se-
parados nos tornando várias coisas
ao mesmo tempo e, permanecendo
os mesmos.... in-completos e felizes
em nossa desolidão.

Ah, se pelo menos não tivesses
morrido naquele dia em nossa
fatídica despedida – “ ingênua incompetência para o amor”...

Ah, se pelo menos ainda estivesses
aqui, viva como agora nestes versos....
Ah, se pelo menos pudesses me ouvir...
Sei que virias até mim, e então eu não
teria morrido novamente, como agora,
des-falecendo nalgum lugar entre o céu e
a madrugada.

SOBRE A ESSÊNCIA DO MUNDO

Ninguém conhece ao certo sol algum
terra alguma... mas somente, o olho
que vê um sol e uma mão que
toca uma terra...
Na sua verdade profunda
o tempo é sucessão...
o espaço é posição...
O mundo todo é o fazer-efeito
da matéria: caus-ação!

MOSAICOS POÉTICOS II

Rasgar as páginas do poema
sugar intensamente a des-vida
Nicotina.
Não ser senhor de si – mesmo -
servo-elemento. Cachorro-
cimento-flor. Pura existência
Apenas!
Sentir pedra, nos olhos : –
parede – comportas – sentimentos –
anti-vasão – an-águas – vento – tufão.

- “Não sinto falta da família.
Nem de um grande amor. Às vezes,
sinto saudade do clima... daquele
friozinho que des-fazia a gente...”
(soberbas defesas psicológicas!...)
Ah, quanto do nosso ser naquele cal...
na poeira dos sons e acontecimentos!

No fundo todos pré-sentimos
o que vai acontecer a questão
é que o vidro de nossas promessas
está quase sempre embaçado de
esperança... neblina, neb- linas, meninas...
(bolas-muchas do não-futuro!) É o que somos.

Ser pragmático. Ou em ser-ter-sido. Não há
outra partida. Não existe meio-termo:
“Ou isto. Ou aquilo.” Ou des-isto, des-aquilo.
des-aquilo-outro. estidade nadidade aqüidade
ali-dade (espécie de caráter leve e aéreo) ou
simplesmente qualidade de ser do ar.

Quem mandou brincar com as
palavras... dá nisso... Elas têm
jurisdição e jurisprudência.
E, quando trëmas ou –ifens, e sinais
não mais registrados nos dicionários
venham à tonta na clandestinidade
da saliva de alguma língua- esquecimento ...
a senhora nova gramática os punirá severamente.
Severas (mente) Severa. Ah, como até as filhas
da “verba” insurgem-se linguisticamente contra ela...

A língua como uma metáfora viva-revolução
de si mesma – transcendendo-se reflexiva-
mente bronzeada falando de si mesma em
si mesma – através. Pronto. Já me esqueci
o que ia falar. Esqueci de pensar. De ser.
Virei puro acontecimento. Ou nem mesmo
isso. Nem sei... sei lá penso sem órgãos
dis-pensa do ser Aquém

MOSAICOS POÉTICOS I

Faço cinzeiro das paredes
apago o fogo das venezianas...
espero no papel uma rede
[escrevo.

Antes do dia, penso no seu nascimento,
e nas vidas que ainda dormem...

CUIDADO CARGA VIVA!

E os pedaços de sono
perdidos...

O nariz do sol sobre a planície
da tarde...

Temos assado cozido
a 3 km
estrada para canape-quente

Ando sempre com os mesmos passos...
passo sempre pelos mesmos buracos e,
tudo torna-se novo tropeço de viver...
Não consigo ter idéias inventadas,
apenas posso sentí-las ainda que provocadas
pela leitura de poemas não-eus mas que logo
tornam-se minhas partes íntimas...
Na latrina todos somos seres altamente reflexivos
e com toda a lucidez do mundo retornamos
às origens do pó de Adão religiosamente todos
os dias ou depois de uma puta feijoada....

Quando digo que não quero
é justamente isso que quero ser
quando crescer... por enquanto vou
vivendo lentamente meus últimos instantes...
[imberbe.

A ampulheta é a maior invenção da humanidade
porque é a pintura da eternidade, na suas rugas
e flacidezes de velha en-ternecida “flatus vocis”...
A sua fluidez e plasticidade o azulejo das veias
de uma negra linda o tempo...

Quando vamos fazer compras todos fazemos compras,
contas, e sonhos de dar certo... não ter tema é legal e
muito lógico e assim-temático, pois não dá pra fugir
do que não existe assim, como não dá pra sair do poema...
não tem uma porta, uma janela no poema...
é um lugar fechado para o infinito!

Seríamos mais felizes se fossemos menos ridículos
e mais des-avergonhados, com sangue de a-mora mesmo
pró-amor... e fanta laranja. Quando o amor acontece ele
desata todos os nós e, faz coisas lindas e circulares, às vezes rosas outras gira-sóis... na areia da praia, quanto no abismo e na noite... nos encontramos sempre em estado de ausência não importa em que companhia estejamos... Sempre falo que as coisas é que sabem de si e os objetos é que tem senso de humor... eles ficam sempre olhando fixamente e dando gargalhadas nas nossas caras-certezas...

As pedras e os anzóis
são perdas esdrúxulas
Os homens e os gatos
são perdas ex-drúxulas
As mulheres e as cafetinas
são perdas ex-lúxidas

Se fossemos falar da anatomia das cores
poderíamos começar pelas cordas vocais e
os chinelos... Mas quando temos medo aí mesmo
é que temos mais chances de não ter medo (pelo
menos enquanto estivermos com medo...)

Algumas das frases mais profundas da humanidade
ditas depois da barbárie e do holocausto...
bem que poderiam ter saído da boca de um adolescente
cheio de espinhas e artes masturbatórias:
“ Ah, estou envergonhado de ser homem”.

Ah, a relatividade da mulher aberta
que me encanta e faz sofrer...

A liquidez da vida
a sua fluidez fluida
espumante e etílica
seus dentes gélidos e
lábios calientes...
Toda lascívia e loucura
de seus beijus que entram
pelas narinas e vão até
os glóbulos mais vermelhos
de nossas terminações nervosas...

SUSSURRO

Carrego num envelope
Teu sussurro.
Que já não ouço
De tão grave.

POR FAVOR, OBRIGADO!

Quando no fim do ano

Fores buscar

As calças de abril

Leve minhas lembranças

Primaveris.

UMA SENHA PARA VIVER

Hoje o dia foi uma merda
Hoje o dia foi uma merda
Uma merda
Uma merda

Uma senha para viver
Outra para existir
Uma esquecer
E sentir?

Atravesso dois rios
Caudalosos a seco
Bêbados Jacarés Lambem
minhas pernas
Insanas
Insanos

Na calçada uma capivara
Ajeita seus óculos e
Me sorri.

PALAVRA

Dez anos de galhos retorcidos
A vida no prelo, no grelo
“Ad infinitum” brotando
Raízes
no chão da língua
Estrelas
no céu da boca
A lua
na esquina tonsila.

AGONIAÇÕES POÉTICAS E SAUDADES

Números infernais
sobem pelas escadas
do meu quarto...

Desejos suicidas. Gritos
silêncio. Decido: s
a
l
t
o
_______________________
...” não vai a lugar nenhum “...

A gravidade me

olha

jeito de três
z
z
z: “diga trinta e três –

trinta e três ...






À beira do abismo:

número.

Eternamente caindo:

numeral ...

A música, a dança, a métrica

do poema tudo calculável

mensurável

Uma flor, um rio, ponte


2 – 2 = 1 olhar: natureza.

Matemática do amor,

didática do pavor

A pele da unidade,

o múltiplo-osso

cachorro ordinal. Lambe

a perna do acontecimento:

Som.

Pneus lataria leitaria

borracha queima embaixo

pés arranham céus língua

dentes abertos nuvens de

sonhos Emanuelle essencial

Fala a pedra sono sapos

príncipes narciso me olha






E

cai .
.
.

líquido-poema.

Embora. A noite uma estrela

cadente

nossos desejos

cadente

Beijos lábios

abissal. Abis- sal

sal

Peixe-olhar

peixe-fala

pensa-peixe
Gita!

Escamas quantidade

intensamenteidade

em-
baixo da cama-
elemento

escadas para a tua umidade

Parcela-marcela... saudade

sobe

desce macera

Espinha adentro congela

derrete o ser. Uno

Raimundo

sai e pede para parar

A roda inventa modas

séries grandezas trans-

Passa

o passo a passo pássaro

estação esquecida: coração

Sete vezes setes,

mentiroso judeu perfeição

Treze elementos era glacial

espaçonave espaço- nave

neve ove- fora.

Noves.


Encontrar um gato preto

subindo a escada infinito

atrai para si- negro: estrela- ego


Centro centrífego centrípeto

centri-fuga.

Es-cala es-calo es-bicho de pé...

coça às costas: calo.

Unha amantes unhas

à caça bruxas narizes oblongos

oblíquos perfis ...


“ por el odor de la mujer equatoriana

sub el pavor del sexo - umedad infernal

de entre las piernas-narinas...”


Ônibus janela vômitos –

desmaios na paisagem.

Descascando-se cadeira –

a tarde.

A vontade da água:


gelar!

Professor de matemática : nootbook.


Tênis p tênis p tênis p tênis p

“olha o passarinho” >. >. >. > chic chic ahÓ

Ele na mão eheheh pensa seriamente-ave.

Os ratos na índia o ganges a fé a força

das águas

Gás vento dor dentro pensamento

explosão-idéias


Agoniar v.t.d

nordestina-ação

nordestinação – nordestinar

o destino

Viver intensamente aperrear-montar

“gracias a la vida”

Borrar borrar borrar

cada folha límpida

reciclável ...

Perdão remissão dos atentados

o não-erro o não-erre
o nõ´- serve servi sérvio

A guerra ea paz

Tolstói. Rosa. Povo.